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Comece a ler A Luz que Ele Emana agora
Conheça o livro mais lido da Galuba Editorial
Sinopse:
Royal é atleta do time de natação. Camden é musicista genial. Eles estão em lados opostos da universidade e, normalmente, jamais se conheceriam. Mas, por uma brincadeira do destino, Camden acabou virando colega de quarto do capitão do time de natação.
O mundo de Royal O'Connell é água e ritmo. Trabalho duro e motivação é o que sempre o manteve um passo à frente na competição. Ele precisa do seu lugar na equipe de natação para garantir a sua bolsa de estudos, e esse é o único plano que importa.
O mundo de Camden Morgan é o piano e a cadência dos sons. Introvertido, usa a música para se conectar com o mundo ao seu redor. Seu talento natural, treino e ambição, colocam ele como uma das grandes promessas da música clássica.
Ambos tinham um futuro planejado e nenhum deles esperava sentir essa atração.
O amor nem sempre é um caminho fácil e, quando tudo pelo que eles trabalharam está em jogo, eles terão que decidir se estar juntos vale o risco.
A Luz que ele emana é uma leitura perfeita para os fãs de Heartstopper, Vermelho, Branco e Sangue Azul e Enquanto eu não te encontro.
PRÓLOGO
CAMDEN
Uma tentativa de som mantinha meu mundo coberto e ferido sob o marfim. Uma composição de notas juntas, esticadas pelos meus dedos, a música na minha cabeça era particular… isolada. Está escuro aqui. Contei os números, as batidas, as métricas e nada do que eu criei combinava com o som que eu procurava.
Turbulência e caos.
A espuma branca quando a onda chega ao pico, manipulada pela palma da mão dele. Colocada de lado como se a corrente não fosse se atrever a detê-lo.
É o som que a luz faz ao cortar a água cristalina, tocando a pele dele e iluminando meu mundo. É um espectro tão alto e bonito que voltar para a escuridão parece uma sentença penal.
Fios grossos de loiro dourado escorriam pelas pontas dos meus dedos. Inspirei o cheiro de verão da pele dele: brilho de sol e cloro. Deliciei-me na cor de palha de seus cílios, conforme eles roçavam no topo de suas bochechas e permiti que o calor da sua pele passasse e se misturasse com o meu. Suas costas ao meu peito, minha mão em seus cabelos e meu nariz em seu pescoço. Esta era a luxúria com a qual sonhei na minha busca pelo som, pela sanidade. Meu coração estava pesado demais em meu peito, meus pecados eram um fardo que mostrei para as teclas… e apenas as teclas conheciam todos os meus segredos.
As sombras com que brinquei durante o dia todo transformaram-se em amanhecer quando a voz dele deu a partida no meu coração. O aroma conhecido de doce e frango agridoce flutuaram pela fresta da porta do meu quarto e meus dedos pairaram silenciosamente sobre o teclado.
— Espero que esteja com fome — disse ele para o meu colega de quarto e eu o ouvi rir.
O sorriso que ele infundiu naquelas palavras agradaram a minha memória e eu quase pude sentir a nota perfeita, aquela pela qual procurei a semana inteira. Mantive meus olhos nas teclas e ignorei o jeito com que meus pulmões pareceram repentinamente grandes demais nas minhas costelas.
Ele não foi feito para mim e eu não fui feito para ele.
Repeti isto ao ouvi-lo, seus passos, sempre nove, conduzindo-o até mim.
CAPÍTULO UM
ROYAL
Eu gostava de palavras tanto quanto Indie, minha irmã, gostava de pinturas. Ela pegava cores estranhas, misturava-as na tela e eu perdia a capacidade de respirar ao assistir o pincel em sua mão revelar todos os seus mistérios. Eu não era bom com as palavras, porém, as colecionava independentemente da minha incapacidade de juntá-las. Palavras como cerúleo e boia infantil. Eu gostava de definições e do jeito com que uma palavra podia provocar uma série de sentimentos dentro de mim. Ler era a minha fuga, assim como a arte era para Indie. E, hoje, a palavra “abismo” tornara-se o peso no meu pé direito enquanto pressionava o acelerador, com o asfalto a minha frente alongando-se como um gato indolente, comprido e lento.
A paisagem seca do deserto havia finalmente dado lugar ao verde exuberante de Oregon enquanto a minha irmã brincava com o botão do rádio. Nosso plano de dados familiar acabou há cerca de três horas e fomos forçados a ouvir as guitarras vibrantes e a estática de alguma estação de rádio do meio do nada. A temperatura estava mais fria aqui, e o cheiro das árvores, dos pinheiros, levou embora os últimos fragmentos de casa. Algumas horas atrás, abaixei as janelas com entusiasmo assim que passamos pela fronteira estadual. Indie e eu gritamos como lunáticos.
Um novo começo.
Calouro.
Liberdade.
Amigos.
— Deixa isso pra lá, Indie. São quilômetros de merda. — Sorri, mesmo estando preocupado com a carranca dela na minha visão periférica.
— Não é engraçado, Blue. Odeio quando fica muito silencioso. — Sua voz macia vacilou entre raiva e medo, transformando a minha vergonha em sete letras: imbecil.
Soltei a mão do volante e peguei meu celular no bolso.
— Toma. — Entreguei-o a ela. — Vou pagar pelos dados excedentes este mês.
Minha irmã olhou para mim.
— Não precisa fazer isso. Posso desenhar, tenho um caderno de desenho lá atrás e…
— Deixa comigo, Pink. — Meus lábios responderam ao seu sorriso.
Ela era o meu espelho.
Indie e eu nascemos em 22 de maio. Gêmeos. Olhos azuis. Cabelos loiros. E nomes pelos quais éramos zoados até hoje. Minha irmã era tecnicamente mais velha, dois minutos, mas eu fui o bebê maior. Assim que tive idade suficiente para entender o que significava ter uma irmã, uma gêmea, agi de acordo com essa vantagem. Gostava de pensar que fazia o papel de protetor perfeitamente bem.
— Mamãe não te deixa gastar nada e você sabe disso, além do mais, você não tem tempo. Duvido que seu treinador vá te deixar fazer alguma hora extra na biblioteca. Você vai ter que provar o seu valor. É um novato.
— Eu sou o nadador de cem metros mais rápido do estado.
— E? — Ela riu levemente. — Isto é a faculdade. Um novo começo. Nada anterior a isso vai importar para eles se você estiver cansado demais para nadar. Aposto que seu treinador vai manter vocês em rédea curta. — A testa dela franziu profundamente pela apreensão. — Não exagere, Royal. Na última temporada, você ficou exausto. Trabalho, natação, notas. Não se enterre na biblioteca. Viva um pouco.
Eu ri.
— Diz a garota que nunca sai do estúdio de arte.
— Eu saio.
Ela se virou e olhou para a janela. Seus sussurros baixos ricocheteavam no vidro e a culpa me fez perder o ar mais uma vez ao ouvir o som vazio da sua solidão.
— O que estão dizendo? — perguntei, observando seus ombros encolherem.
Como sempre, ela não respondeu de imediato. Demorou um minuto, suspirou como papai e todos aqueles anos de terapia a haviam ensinado, e disse:
— Eu não sou solitária.
— O que eles disseram? — perguntei novamente. Meu tom de voz tomava aquela propriedade firme de irmão-urso que ela conhecia muito bem.
— Disseram que sou uma fracassada… que sempre serei sozinha.
Ela me encarou com olhos azul-claros vidrados.
— Você nunca será sozinha, Pink, nunca. Sempre terá a mim.
Tirei os olhos da estrada apenas por um segundo, mas seu sorriso valia muito a pequena distração. Ela plugou um adaptador ao meu celular, escolheu uma música e pôs para tocar. O vento bagunçou os fios sedosos dos cabelos dela quando fechou os olhos, descansando a cabeça no apoio de couro surrado do meu bastante usado Subaru. Uma canção antiga favorita da família tocou nos alto-falantes e uma onda de nostalgia tomou conta de mim quando trouxe meus olhos de volta para a estrada. Eu tinha uma família maravilhosa. Pais que se importavam de verdade e eram presentes. Eles nunca fizeram eu ou a Indie nos sentirmos como se não fôssemos as coisas mais importantes de suas vidas.
Mamãe e eu éramos próximos. Eu herdei sua paciência e a predisposição para insegurança. Foi por isso que comecei a colecionar palavras quando era mais novo. Uma estratégia para parecer mais inteligente do que me sentia, para roubar um pouco do holofote de Indie. Papai e Indie estavam sempre cochichando entre eles e pintando. Mamãe também era artista, mas ela nunca pareceu se importar que eu não tivesse talento para a coisa. Pelo contrário, ela lia para mim o tempo todo. Ajudava-me a pesquisar palavras que eu não entendia, incentivava o meu fascínio por sinônimos inúteis e termos que nenhum pré-adolescente respeitável deveria usar. Ela incentivava o meu comportamento espalhafatoso e livre. E, com o tempo, descobri que era o jeito dela de ajudar a acabar com o silêncio que, às vezes, pairava em nossa casa quando as coisas ficavam carregadas.
Enquanto eu era o filho rebelde, Indie era a quieta, um item frágil de vidro. Ela compartilhava os demônios do nosso pai. Lutava contra a depressão como ele sempre lutou. Vozes. Alucinações. Transtorno esquizoafetivo. Indie tinha padrões de alto desempenho e dificilmente sofria estímulo interno, mas eu nunca deixei de me perguntar se ela simplesmente se tornou muito boa em esconder as vozes em sua cabeça. A ligação que papai e Indie compartilhavam não significava um conflito entre mim e ele. Era um equilíbrio. Papai e eu tínhamos o nosso próprio mundo, mas era diferente. Nosso tempo juntos era como aquele suspiro profundo que eu dava quando a minha cabeça atravessava a água ao nadar: alívio. Nós conversávamos sobre esporte e garotas, e tirávamos sarro dos meus tios. Ele e seus irmãos tinham um estúdio de tatuagem no centro de Salt Lake, mas a arte de papai pagava mais as contas que sua habilidade como tatuador, o que lhe dera mais tempo em casa com Indie e comigo. Papai foi a todas as minhas competições de natação. Uma presença fiel que impulsionava meus membros de forma rápida e forte pela água. Uma vez ele me disse que era como se eu fosse sua borboleta pessoal.
Depois que terminamos de colocar as coisas no carro hoje de manhã, e mamãe chorou de novo pela décima vez, ele me deu uma pequena tela. O quadrado de 8x8 estava coberto por ondas de água-marinha, cortadas ao meio com uma faixa brilhante de ouro.
Ele disse:
— Pintei isso depois da sua primeira competição de natação, e esta é uma imagem que vou pintar repetidamente enquanto você estiver fora. É um lembrete, filho, do orgulho que sinto sempre que te vejo na água.
Aquelas mesmas palavras, misturadas com as letras de sua música preferida deram um nó na minha garganta quando acelerei na I-84 em direção a um futuro desconhecido. Uma oportunidade que ele e a mamãe me deram com todas as sessões de estudo noturno e treino matinal.
— Queria que ficássemos no mesmo dormitório. — O lamento sussurrado de Indie me fez rir.
— Você não quer sua privacidade? Abrir as asinhas? — brinquei, beliscando o jeans do seu macacão.
Ela me encarou, seu semblante inexpressivo tornou impossível não rir.
— Tenho três colegas de quarto. Privacidade não faz parte do meu vocabulário neste semestre.
Escondi a animação que borbulhava no meu estômago com um encolher de ombros. Dormitórios individuais na Universidade de St. Peter eram reservados para formandos e atletas. St. Peter era uma universidade católica particular de elite, conhecida por colocar seu dinheiro no recrutamento dos melhores atletas do país. Aparentemente, eles levavam o esporte muito a sério. O fato de o departamento de arte deles ser de primeira qualidade era uma coisa boa, já que ficar separado de Indie seria como se alguém falasse “Ei, deixe-me cortar seu pulmão esquerdo” e esperar que eu respirasse normalmente. Não importa o quanto pareça estranho para quem é de fora, ela era uma parte de mim e eu, uma parte dela. Ela era a minha melhor amiga e, se eu tivesse que fazer isso sozinho, não tenho certeza se algum dia teria passado do estacionamento atrás do nosso apartamento.
— Você pode aparecer no meu quarto sempre que quiser — propus, e ela revirou os olhos.
— Obrigada, mas entrar num dormitório só de meninos é o jeito mais rápido de nós dois perdermos a bolsa de estudos.
— Você acha que são tão rigorosos assim? — perguntei.
Ela bufou.
— Você não leu o Código de Conduta?
— Não, nerd, não li.
Ela empurrou meu ombro.
— Leia, Blue, senão vai levar um pé na bunda em uma semana.
— Ei. — Eu ri. — Eu sou um santo.
Ela me olhou de canto de olho.
Então… talvez eu fosse meio problemático e, talvez, pudesse ter testado o coração de mamãe e papai. Mas isso não era coisa de adolescente?
— Ritos de passagem devem ser realizados.
— Agora você parece o tio Liam — falou ela com um sorriso afiado.
— O cara dá uns conselhos de matar.
Indie riu enquanto buscava outra playlist no meu telefone e o som acolhedor de seu riso era contagiante. Ela era uma pandemia de calor quando deixava as nuvens saírem dos seus olhos. Ela se decidiu por outro clássico da família e sorriu ao perguntar:
— Você acha que o Quinn e a Ava também vão tentar entrar na St. Peter?
— Espero que sim. Todos os O’Connell novamente no mesmo estado seria bem épico.
Quinn era filho do meu tio Liam e Ava, filha do tio Kieran. Nós todos tínhamos idades próximas e almas afins e, enquanto perder Indie era como perder um pulmão, deixá-los era como perder um membro. Éramos todos ligados, nossa família, um grande coração vivo, respirando, batendo. Eles ainda tinham alguns anos de Ensino Médio. Anos com os pais. Anos para descobrir que diabos queriam da vida. Um nó se formou na minha garganta ao pensar nisso. A saudade de casa, pesada e imediata, esgueirou-se pelos músculos dos meus ombros.
Será que eu sequer sabia o que queria? Será que este ano seria tudo o que eu esperava? Será que eu fracassaria? Será que estragaria tudo e acabaria dando prejuízo para os meus pais, obrigando-os a desembolsar o dinheiro que não tinham para me mandar para alguma faculdade estadual de merda perto de casa?
Eu nadava os cem metros mais rápido do que qualquer outro calouro nesta universidade e, academicamente, nunca deixei minha média abaixo de 9,8. O trabalho paralelo que consegui na biblioteca de St. Peter com o programa de estudo e trabalho, independente do quanto meus pais ou minha irmã protestassem, era meu. Eu tinha dezenove anos e queria provar a mim mesmo que conseguia ser o homem que meu pai me ensinou a ser. Ser o irmão que conseguia sustentar a irmã neste novo ambiente a qualquer custo.
Deixei a minha adolescência em casa, enrolada nos meus lençóis infantis, e estava seguindo em frente. Estava me transformando em algo mais, eu estava no limite…
Um abismo.
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